Em entrevista exclusiva à coluna, cantora com maior número de shows no período junino revela a verdade sobre saída da banda ‘Aviões’
Aos 48 anos, Solange Almeida é, no período de festas
juninas, a artista que mais faz shows no país. Só neste mês, são 41. A
impressionante marca em nada lembra os anos tenebrosos pelos quais passou desde
que saiu da banda Aviões do Forró, que a alçou, ao lado do então parceiro Xand,
como uma das maiores vozes do forró. Em dezembro de 2016 foi comunicada de que
a banda acabaria e cada um seguiria seu rumo. Logo descobriu que tudo fazia
parte do plano dos empresários para seguirem apenas com Xand. Sentindo-se
acuada, concordou em divulgar numa entrevista ao Fantástico que escolheu a
carreira solo. Mas o sentimento foi de traição.
Não parou aí. O Ministério Público Federal abriu
investigação contra os empresários do Aviões, entre outros crimes, por
sonegação de quase 300 milhões de reais em impostos – o que recaiu nos cantores
sócios da empresa. Até o ano passado, Solange estava com os bens bloqueados na
Justiça. Ela deve cerca de 9 milhões à Receita Federal, que estão sendo quitados mês a mês. Por toda esta
narrativa, desenvolveu crise do pânico, entrou em depressão e se entregou ao
vício do cigarro eletrônico (ou “vape”), que quase comprometeu seus pulmões.
Passada a fase aguda da crise, Solange deu a volta por cima. Alegre em cima dos
palcos e com duas indicações a prêmios internacionais (Grammy Latino e WME
Awards 2018), é chamada de “Marília Mendonça do Nordeste” pelos hits que
reforçam o empoderamento feminino. Renovada, pensa em ser mãe pela quinta vez.
Mas este plano é para o próximo São João.
Que balanço faz desses sete anos de carreira solo? Foi um
reinício. Precisei aprender a fazer tudo sozinha, até a escolher as músicas.
Fiquei um tempo perdida, sem direção, porque passei a vida inteira com pessoas
me conduzindo. Estava acostumada a cantar um estilo, dito romântico, que
chamavam de, entre aspas, parte lenta do show. Quis mostrar que não canto só o
romântico
Teve medo? Muito, mas só tive uma opção. Me falaram: ‘Você
tem só dois meses para continuar na banda, depois segue tua vida’. Me
desesperei.
Na época você declarou que saiu por vontade própria, para
seguir carreira solo. Não foi isso? Não. Os dois donos majoritários da banda,
Isaías e Carlos Aristides, me disseram que faríamos uma última turnê. onde
sairíamos bem remunerados. Depois cada um seguiria sua vida: Xand com a
carreira solo dele e eu com a minha. Mas em seguida, vi que não era isso, que
eu estava fora. Disseram que a banda ia seguir sem mim, que eu teria só até
fevereiro para ficar. No meio disso, os meus bens foram bloqueados.
Como foi isso? Houve uma investigação da Polícia Federal.
Não só eu, mas todos do grupo foram envolvidos no processo. Fiquei com tudo
bloqueado até o ano passado. Foi muito difícil, nem meu microfone eu trouxe de
lá. Saí só com minha poltrona e meu micro-ondas. Foi difícil em todos os
sentidos.
Dispensaram somente você? No dia que me dispensaram,
chamaram os músicos e disseram: ‘Tragam a carteira de vocês. A gente vai dar
baixa e quem quiser continuar, continua; quem quiser seguir com a Sol, segue’.
Quando chegaram lá, mandaram colocar na Justiça, que não iam pagar nada. Os
músicos descobriram que já tinha até outra banda montada. Ou seja, foi tudo
arquitetado para me tirarem. Só agora estou com coragem de falar disso sem
mágoa, é a primeira vez que conto detalhes de como tudo aconteceu.
Sobre a investigação da Polícia Federal, qual foi o seu grau
de envolvimento? Eu não tinha responsabilidade de assinar qualquer contrato,
era apenas a cantora, não participava de negociação. Depois soube que falavam de mim pelas costas
para outros empresários, que me odiavam. Era pintada como Patinho Feio, a
problemática, a chata.
O que falavam? Vários empresários me disseram depois que
tinham receio de mim, porque eu reclamaria de tudo. Não peço nada no camarim.
Só quero meu cafezinho, meu pãozinho, não tem exigência de nada. Sempre fui simples. Hoje no meu
camarim, se você entrar lá, tem arroz com frango, café e queijo coalho com
tomate e manjericão. Eu era a culpada de tudo que acontecia de errado na banda,
entende? Era Teste de Ferro.
Como ficou sua situação com a Receita Federal? Passei 15
anos na banda e saí com uma dívida gigante com a Receita. A culpa não foi
minha, meu contador era o contador deles. Tinha que ser contador de de lá.
Venho pagando a dívida até hoje, que ficou em quase 9 milhões de reais. Pago
todo mês.
Você ainda fala com Xand? Saí da banda dia 27 de fevereiro
de 2017. O aniversário dele foi dia 24 de março, já não fui convidada. A gente
se viu numa reunião com advogados, em maio de 2017, para para tratar do caso do
processo. Depois nos encontramos no evento do Instituto Neymar, nos corredores.
Falei para gente tomar um vinho que eu trouxe de uma viagem. Ficamos de marcar.
Acabei tomando o vinho sozinha. Não existe mais amizade. Achei que a nossa
relação seria duradoura, tanto que dei minha filha para ele batizar.
Vocês subiram juntos no palco em 2021. Ali não foi selada a
paz? Em dezembro de 2021, recebi convite da Gkay para ir à Farofa. Chegando lá,
soube que Xand estava na festa. Fiquei dançando com meu marido, quando me
chamaram para cantar. Xand também subiu. Fui de coração aberto. No dia
seguinte, acordei com pedidos de programas de todas as emissoras, especulação
de que recomeçaríamos uma turnê. Ali foi nosso último encontro. Não teve mais
nada. Ainda mandei uma mensagem para ele de aniversário. Mas não me respondeu.
Participaria de um show com ele atualmente? Não me sentiria
confortável. Perdoar alguém não é, necessariamente, trazer a pessoa de volta
para sua vida. Não sou obrigada.
Ele fala com sua filha, a afilhada dele? Zero contato,
cortou completamente os laços.
O salário dele era maior? Era. Porque ele participava das
comissões de shows feitos pela empresa. Ele recebia o salário e recebia como
sócio por fora.
Xand sabia que você estava sendo expulsa da banda? Com
certeza. Soube que foi uma imposição dele, foi o que mais me doeu. Foi quando
decidi entrar na Justiça contra a banda (ela pede indenização). Lá atrás
briguei por ele, pedi para que cantasse a mesma quantidade de músicas e que ganhasse
o mesmo salário que eu. Não sabia que ia
levar uma punhalada dessa pelas costas.
Nunca pensou em sair da banda? Em 2005, recebi convite para
ir para outra banda, avisei que ia sair. Foi quando o pai do Carlos Aristides,
o Zequinha, me disse: ‘Vamos lhe dar 5%, porque você é mulher Começa com 5%,
daqui a um ano vai para seis, sete, oito, até chegar nos 10 que Xand ganha’. Só
que aí a coisa foi ficando difícil. inha
show que eu ficava uma hora sem cantar. Me deixaram de lado.
Sente que foi vítima de machismo? Sim, é a mulher quem ganha menos, é a que não pode ter voz. Corro o risco de ser mais uma vez escrachada por falar isso.Vão dizer que estou querendo ibope. Quis falar isso na época, mas não me deixaram.
Como te censuraram? Assim que anunciaram que eu sairia da
banda, mandaram a equipe do Fantástico até Raimundo Nonato, no Piauí, onde eu
estava na véspera do natal de 2016, para me entrevistar. Me colocaram num
quarto e disseram para confirmar que eu tinha decidido sair. Com medo, assumi a
culpa, me senti acuada. Ficou um segurança na porta e armaram um cenário para a
gente dizer: ‘Agora Solange vai seguir sozinha’. Foi muito desconfortável.
Armaram essa entrevista? Fizemos o vídeo sentados no sofá de
um quartinho de hotel. Tiraram a cama, colocaram duas poltronas e gravaram para
as redes sociais. O Fantástico cobriu
meu último show, viajou comigo… E falei que estava saindo porque o ciclo tinha
acabado. Não tinha coragem de contar a verdade, que estava sendo saída.
Entrou em depressão? Sim. Faço terapia até hoje, percebi que
estava adoecendo com tanta mágoa. Estava me sentindo traída. E não queria
aceitar aquilo. Não queria cantar, dava sempre uma desculpa para não ir aos
programas de TV. Era difícil sair de casa.
Hoje você é a cantora com maior número de shows no período
junino. Isso é uma resposta a você mesma? Ai meu Deus do céu, tem sido uma
colheita tão satisfatória. Existe tempo
para colher. As pessoas estão vendo uma Solange mais madura, que hoje sabe o
que quer, que se apoderou de uma história que também é dela.
Esse empoderamento fica claro no seu repertório. Sim,
comecei a cantar no forró, há 20 anos, o que chamam hoje de sofrência. Tem uma
música, Titular e absoluta, que diz: ‘Não
nasci pra ser a outra, nasci pra ser a única titular e absoluta do seu
coração’.
Por que o cigarro eletrônico quase te fez parar de cantar?
Na pandemia fui apresentada a isso, me disseram que não fazia mal, que não
tinha nicotina. Comecei a comprar de vários sabores. Cheguei a ter um em cada
uma das cinco bolsas que mais uso, dentro do carro, na gaveta da cozinha… E foi me dando dificuldade de respirar,
problema nas cordas vocais… Fiz exame e descobri o pulmão prejudicado. Aí
minha filha me mostrou uma matéria sobre uma menina internada por uso do
cigarro. Naquele dia decidi que não mais usaria. E foi o que fiz desde 2 de
outubro de 2021.
Sentiu falta? Muita, comecei a ter crise de ansiedade, de
pânico e depressão. Foi terrível. Foi quando tive que ir ao psiquiatra. Comecei
a fazer uso de remédios para dormir, para cuidar da ansiedade…
Ainda faz uso dos remédios? Faço para poder manter a serenidade
e equilíbrio. Falo isso porque também preciso mostrar que sou suscetível a
erros. Posso errar assim como ensinar outras pessoas.
Nos seus shows, você inclui seu filho Rafael Almeida para
cantar. Foi natural o envolvimento com a música? Nunca foi pressão, pelo
contrário. Quando ele quis tocar violão, pediu ao pai, aos 13 anos. Aprendeu
sozinho. E começou a compor aos 15, quando quis lançar a carreira. Eu disse que
não estava pronto. ‘Não quero que você seja chacota das pessoas, que digam que
te carrego nas costas’. Ele foi estudar e hoje não me meto na carreira dele.
Tem a vida dele.
Seus outros filhos também têm essa veia artística? Ah, meu
Deus do céu! Você não acredita. Se te mostrar um vídeo, vai dizer: ‘Tu tá
brincando que essas aqui são tuas filhas cantando’. É espetacular.
Quer ser mãe de novo? Quero. Vou fazer 49 anos e quero
engravidar. Embora saiba que exista tabu com mães maduras. Me dói ver esses
ataques vindo de mulheres. O que a Claudia (Raia) passou me incomodou tanto, me
senti na pele dela. Quando digo que quero ser mãe, dizem: ‘Numa idade dessa?
Vai curtir sua vida’. Como se nós tivéssemos data de validade. Qual é o direito
que as pessoas têm de de opinar no meu corpo, nos meus sonhos? É invasivo
demais.
Congelou os óvulos? Sim, fiz isso já pensando em ser mãe
quando estivesse mais tranquila. E vai dar certo. Pretendo cantar grávida no
São João do ano que vem, aos 50 anos, se Deus quiser.
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